Você sabia que as pessoas “normais” mentem em média, 200 vezes por dia? Mas afinal, porque mentimos tanto?
Para “ficar bem na fita”!
O principal motivo pelo qual mentimos é para manter uma boa imagem de nós mesmos. Assim, dizemos para nosso chefe que seu discurso foi ótimo, quando na realidade foi um fiasco, e que nos atrasamos para um compromisso porque o trânsito estava “péssimo” e não porque dormimos até tarde. Nesta categoria de mentiras, os homens são os campeões: suas mentiras giram principalmente sobre assuntos envolvendo carros, profissão e posição social.
Um interessante estudo conduzido em 2002 juntou duplas de desconhecidos em uma sala, sob um pretexto falso, para observar a interação entre eles. Nada menos do que 60% dos indivíduos contou alguma mentira após somente 10 minutos de conversa. A média foi de 2,9 mentiras neste curto período de tempo. Um dos participantes chegou a inventar uma mirabolante história se apresentando como um famoso astro de rock.
Para proteger quem amamos
Entre as mentiras mais comumente contadas, estão as “sociais”, ou seja, aquelas mentirinhas bobas que usamos para manter a harmonia social.
Dizer que o novo corte de cabelo da sua amiga está lindo mesmo que você tenha achado horrível, negar que sua namorada engordou, mesmo que ela tenha ganho uns quilinhos evita conflito e sofrimento desnecessários. Estas são mentiras inofensivas, contadas com a intenção de manter os laços afetivos e proteger quem amamos e são o tipo de mentira mais comum entre as mulheres.
Em uma experiência na qual deveria ficar quarenta dias sem contar uma única mentira, o jornalista alemão Jürgen Schmieder, de 31 anos, dormiu por sete noites no sofá após responder para a esposa que sim, sua bunda estava muito grande naquele vestido, foi isolado no trabalho após revelar a colegas que os achava incompetentes, quase perdeu uma antiga amizade por se recusar a encobrir uma história e, segundo relatou em reportagens, quase entrou em depressão.
Para evitar punições
Esta classe de mentiras começa cedo. Crianças por volta de cinco anos já sabem que mentir evita castigos e, portanto, afasta o desprazer.
A atitude da família, nestas situações, conta muito. Se a criança vive em um ambiente no qual se recompensa a opção pela verdade, ela vai aprender que tem o direito de errar, que pode admitir seu erro e, eventualmente, até mesmo repará-lo. Exemplificando, a criança que admite ter riscado a parede com pillot, pode ser esclarecida, de forma calma, que aquilo não será tolerado e que ela terá que limpar o que fez. Já em uma casa na qual os erros são duramente repreendidos e castigados fisicamente, a criança dificilmente optará por admitir o que fez; ela tentará se esquivar da punição colocando a culpa em um irmão, por exemplo. Com o tempo, este padrão tende a se consolidar. Isso acontece porque tanto a mentira como a verdade são comportamentos verbais aprendidos: a pessoa tenderá a manter e cristalizar aquele comportamento que mais lhe beneficia.
E quando mentimos para nós mesmos?
As mentiras que podemos nos contar podem ser inofensivas (“esta fatia de torta não vai fazer nenhuma diferença na minha dieta”). Muitas vezes, mentir para si mesmo pode ser até benéfico, como é o caso de portadores de doenças graves que, mesmo após desiludidos pelos médicos, continuam se dizendo que o que têm não é grave e que vão se curar. Por razões ainda não completamente esclarecidas, este auto-engano pode melhorar a resposta terapêutica e o curso da doença.
Entretanto, precisamos ficar atentos para não contarmos mentiras danosas a nós mesmos, como, por exemplo, negar, mesmo frente a todas as evidências, que nosso filho está usando drogas pesadas* ou que o nosso casamento é infeliz. * Para informações sobre como descobrir se seu filho está usando drogas, clique aqui.
Mas, obviamente, nem toda mentira é inofensiva. Há pessoas que mentem e enganam premeditadamente, com o único intuito de obter vantagens para si próprias. Estas pessoas não estão preocupadas com as conseqüências que suas mentiras podem trazer às demais.
Um exemplo seria um indivíduo que vende seu carro sabendo que o mesmo está com um defeito grave nos freios e não avisa nada ao comprador, mesmo que este seja um pai de família que costuma levar seus filhos pequenos no carro.
Muitas destas pessoas podem ser classificadas como “psicopatas”. Psicopatas são sedutores e manipuladores e não poupam esforços para atingir seus objetivos egoístas. Em casos mais extremos, enganam, fraudam e trapaceiam, podendo se envolver em atos criminosos.
E a mentira patológica?
Existem pessoas que são “viciadas” em mentir?
Sim, são os chamados mitômanos. Costumam sofrer de baixa auto-estima, são carentes de atenção e gostam de inventar histórias que os fazem parecer superiores ou especiais aos olhos dos outros. Com estas fantasias, buscam suprir algum vazio emocional em suas vidas. Os mitômanos podem chegar a acreditar realmente na sua própria história.
Um exemplo extremo é o caso do francês Frédéric Bourdin, conhecido como “o camaleão”. Bourdin adotava inúmeras identidades falsas e foi preso várias vezes depois de enganar dezenas de pessoas. Apesar de ter 35 anos, conseguia, surpreendentemente, se passar por adolescentes de 15 e 16 anos. A capacidade de engodo de Bourdin era tão grande que, depois de ser preso, uma juíza lhe concedeu 24 horas para provar que era um adolescente e não Frédéric Bourdin. Bourdin não se intimidou: afirmou ser um garoto norte-americano que havia sido sequestrado pouco tempo antes, no Texas. Não apenas os juízes acreditaram em sua história, como a família do garoto sequestrado, inclusive a mãe. Levaram-no para casa, apesar da pouca semelhança física de Bourdin com o garoto sequestrado e de seu sotaque totalmente incompatível. Aparentemente, o desejo de reencontrar o filho era tão grande, que a família precisava acreditar em “qualquer coisa”.
A diferença básica entre os mitômanos e os psicopatas é que, para os primeiros, a mentira é um fim em si mesma, enquanto que, para os fraudadores, é apenas um meio para atingirem um fim (o de obter alguma vantagem pessoal).
Crianças e a mentira
A propensão a mentir varia muito entre as crianças; enquanto algumas quase sempre são honestas, outras mentem com frequência. Há crianças que contam histórias mirabolantes e mentiras fantásticas e inacreditáveis, para a família, amigos e colegas. É preciso verificar, com muita atenção, se a criança está realmente mentindo ou apenas fantasiando – há crianças mais criativas e com imaginação muito fértil, pode ser apenas o caso de ajudá-las a direcionar melhor toda essa imaginação.
E como descobrir se uma pessoa está mentindo?
Felizmente, o mentiroso sempre deixa pistas que podem ser descobertas, além de trair a si próprio com sinais que podem ser percebidos por observadores treinados.
Entretanto, alguns sinais universalmente aceitos como indicadores de mentira não funcionam na prática. Exemplificando, o desvio do olhar já é tão popularmente conhecido como suposto indício de mentira, que apenas um mentiroso extremamente despreparado cometeria este erro.
Algumas dicas para se detectar a mentira incluem abstrair do conteúdo do que a pessoa está dizendo e prestar atenção á sua linguagem corporal, ao tom, volume e velocidade da voz e às micro expressões faciais, isto é, expressões extremamente rápidas de emoções que o mentiroso, inadvertidamente, deixa vazar. Respostas evasivas, acusações e o ato de responder com outra pergunta são bastante suspeitos de que uma pessoa não está dizendo a verdade.
Quanto mais se conhece o possível mentiroso, maiores são as chances de se detectar a mentira. Quando há muita coisa em jogo e o medo da punição é alto, o mentiroso tende a ficar mais “nervoso” e, portanto, mais suscetível a vazamentos emocionais. Mentiras envolvendo sentimentos têm muito mais chance de “vazar” do que mentiras nas quais o conteúdo não envolve nada relacionado a emoções. Quando o interlocutor não tem interesse pessoal em se deixar enganar, as chances de que a mentira seja desmascarada aumentam.
Existem técnicas de treinamento para detecção de mentiras para pessoas que precisam lidar com esta situação rotineiramente (policiais, delegados, investigadores, peritos), porém todas são passíveis de falhas, inclusive os famosos “detectores de mentiras”. Muitas vezes, é difícil diferenciar se os sinais percebidos são fruto apenas da ansiedade pela situação de estar sendo analisado ou se são causadas pelo medo de ser pego na mentira. Estudos de imagem e mapeamento cerebral vêm tendo resultados promissores na detecção de mentiras, dado a maior ativação de regiões específicas do cérebro durante o ato de ludibriar, porém o método não é de utilização prática nem rotineira.
A melhor forma de se proteger de uma possível mentira é analisar cuidadosamente os fatos, confrontar o que a pessoa diz com seus atos e procurar por mudanças no seu padrão habitual de expressão corporal e verbal.